todo dia assim.
é isso o que eles querem? eu tenho. é isso o que eles querem? lá vai. rs.
sem nóia, nem dor, sem cansaço e nenhum medo, sem deixar prá depois eu encaro o dia chegando junto e posso sair por aí como mulher maravilha, mãe unganda, ciciolina. brinco comigo, brinco com ele. cuido de mim, dele e de quem eu quiser. eu sorrio. passeio pelos sabores, construo as pontes, olho nos olhos, abro a janela, sorrio. eu tenho as escolhas. eu digo eu. sorrio.
todo dia sempre assim. vem a tarde botando banca, finjo que tô nem aí. embaralha as cartas, esconde os códigos, manipula as regras e me espreme. vem chegando em avalanche os bichos todos. estão dentro do guarda roupa, no espelho, no armário do banheiro, nos pés de página, na esquina e no telhado. vão chegando e vão entrando. roubam meu ar, meu espaço, meu saber. enraiveço. me escondo. entristeço.
todo dia assim. de noite sinto saudade de mim e olho muito pro céu. não sei muito de nada nem de mim e olhando o céu acho que sou falta. não lembro, me perco. já não ouço os sons e nem vejo o dia. quem sou eu quem sou ele, quem? fujo. com a esperança escondida no bolso de trás.
"ê menina, ê menina
oxum da mina
oxum mãe da clareza
graça clara, mãe da clareza
enfeita o filho com bronze
fabrica fortuna na água
cria crianças no rio
brinca com seus braceletes
colhe e acolhe segredos
cava e encova cobres na areia
fêmea força que não se afronta
fêmea de quem macho foge
na água funda se acenta profunda
na fundura da água que corre
oxum do seio cheio
ora iê iê me proteja
és o que tenho e receio."
luciana oliveira.