terça-feira, 27 de maio de 2008

talvez, quem sabe, seja brilhante...

e enquanto ele falava a realidade foi escorregando pelos vãos e ops!
foi-se... perdi-me por instantes viajando em seus contornos.

domingo, 25 de maio de 2008

a mulher desiludida.


apesar de não ser necessária (a priori) à nenhuma das minhas prioridades de execução, comecei a ler o livro a mulher desiludida, da simone de beauvoir, e tive uma tarde incrivelmente bonita e intensa, apesar de ter mantido-se triste, conforme deveria. claro que pode haver aí um acréscimo de entrega e identificação, conforme anda típico de minha personalidade dramática, algo como querer mesmo inventar uma espessura qualquer prá momentos incomodamente embaçados. mas que me foi tirada a possibilidade do controle que eu almejava, isso foi.
passaram-se horas até eu ouvir o tunico chamar. invernou a tarde toda e me deixou livre prá não perceber o tempo passar...
"descobri a doçura de ter atrás de mim um longo passado. não tenho o tempo de me narrar, mas às vezes, de improviso, eu o vejo em transparência ao fundo do momento presente ... "
"o aspecto jovem recente da paisagem salta-me aos olhos, todavia, não me lebra tê-la visto diversa. gostaria de olhar lado a lado para os dois clichês: antes e depois, e me espantar com a diferença. mas não. o mundo se constrói sob meus olhos num eterno presente."
"verdade é que a história da humanidade é bela e é pena que a dos homens seja tão triste."
"endurecemos em alguns lugares, apodrecemos em outros, mas não amadurecemos nunca."
larguei o livro no chão sem marcar a página em que tinha parado e corri ao seu chamado, deitei abraçada a ele e era tudo aconchego.

tudo é tarde.

é engraçada essa sensação que se tem quando estamos a fim de escrever alguma coisa... a mim parece sempre que não vou escrever agora, meu estado de ânimo é sempre o de rascunho. mas enfim...
ontem eu estava em casa - é que agora não estou - , e com a sensação imponente de que o dia estava claro demais. sabe quando a tal claridade destoa de você a ponto de ampliar demais o que não se quer ver? então, meu filho dormiu, e estava muito sol, eu tinha uma porrada de coisa prá fazer, podia escolher entre tantas prioridades: um livro inteiro prá ler até segunda, escrever o folder de divulgação que deveria ter sido enviado há uma semana, começar a escrever o trabalho que tenho que enviar até dia primeiro para a inscrição no congresso, passar um pouco da montanha de roupa que está lá há meses, dar uma pesquisada nos meus livros sobre o conteúdo que deverá embasar teoricamente o livro que será lançado em outubro e que ainda não começou a ser escrito... ou poderia ainda escolher ser bem irresponsável e me lançar ao tapete prá assistir um dos filmes muito bem avaliados (por pessoas com quem me identifico, claro) que consegui gravar e não consegui ver ainda, quem sabe apenas dormir... de qualquer forma me parece que o mais esperado seria eu me sentir bem, com condições tão esperadas para resolver algum dos problemas que me incomodavam. mas nada... fui arrebatada por um sentimento desolador de imersão em qualquer coisa parecida comum lodo. uma solidão infinita em contraste insuportável com a claridade e as cores daquele dia. parecia domingo, claro. um domingo horroroso, como todos nós já vivemos algum. mas era sábado. e a sensação desse abandono era de tal forma avassaladora que eu só podia estar ali, parada em pé na cozinha, a cozinha cinza, escura. mas lá fora uma claridade de monstro a espreitar. penso ligar prá alguém, fingindo que nada aconteceu, perguntando e aí? tudo bem? que cê tá fazendo? ... meu celular ficou no carro de uma amiga que mora em outra cidade e esteve aqui ontem a noite. abro o portão e olho para os dois lados, não me lembrava se havia orelhões por perto. não vi nenhum. esperei alguém passar por ali (e demorou) (e nesses instantes eu estava com o sentimento de estar num filme, e a sensação era talvez parecida com a estética de um filme de faroeste) e perguntei se ele sabia onde tinha um orelhão por perto. e o mais perto era há uns três kilômetros dali. ampliou um pouco a solidão. entrei. de novo senti o contraste. dois mundos paralelos. o de dentro bem mais parecido com o meu. peguei um livro que estava sob a mesa e me sentei na escada entre o quintal descoberto e a garagem coberta, onde eu ficava no entremundos, com a certeza de que não conseguiria ler duas frases. e então fiquei amiga da simone, que me presenteou com um mundo terceiro, intensamente familiar. estou a salvo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

isabel coixet, tom waits, antonio no hip hop e mais...


terminou a reunião e eu então disse vou correr no banco volto já.... corri prá casa, tirei as coisas todas do carro, haja sacola!!!!!!!! e peguei minha barra de chocolate. sentei na pontinha do sofá cama e pus o filme... e pensei, chorei tanto, senti, sei que nesses refúgios me encontro, as coisas que penso e os sentimentos encontram lugar de existir. e eu então... existo com a intensidade mesma de existir em alguns momentos só. o filme: a vida secreta das palavras. um desses que me faz sentir que não estou sózinha. sabe? aí levantei correndo, preciso voltar e dizer que imprevistos, enfim... mas no caminho ouvindo tom waits eu choro de novo... e o meu nariz assim não desincha. vou parar o carro. e ouço muitas vezes a mesma música. agora vou chorar até o fim, até a última gotinha mesmo. só posso mesmo é gostar de sofrer. não é possível. não há nenhuma tragédia na minha vida, embora eu esteja sempre a esperar por uma... tive um fim de semana bem triste, coisas de mulherzinha. dias desses que faz a gente se desprezar. sinto falta do meu filho. tanta, tanta, tanta..... e percebo que meu carro tá parado bem em frente à escola dele. e que é quase hora de pegá-lo, se ele estivesse ali. não tá. ele tá com a vó em americana pq. ontem ficou com o pai e hoje eu trabalho até tarde. não o vejo desde sábado, quando ele protagonizou uma cena linda no intervalo entre o show do scandurra e do otto, entrando na roda da galera do hip hop e roubando a cena. eu queria ter ido ontem dormir com ele. não fui. gastar gasolina prá vê-lo chegar às dez da noite e fazê-lo dormir e então acordar cedinho, voltar prá campinas e deixá-lo dormindo... não vale a pena. é coisa de mãe infantil, dependente. não vale?????? eu queria tanto que o pai dele e eu fôssemos amigos, mas ele me agride tanto. eu não sei. hoje a lú me ligou chorando muito, estava bem mal, em crise. queria estar por perto, eu disse. e chorei também. no banheiro, prá não ficarem me vendo. liguei pro antonio, ele sempre me pede prá vir prá casa. mais tarde, mais tarde a mamãe vai te buscar. e volto prá reunião. temos que discutir os textos sobre o pensamento complexo, eu não li. mas eu sei bem disso. só que não quero dicutir. penso que o meu trabalho é um caminho muito bom prá eu me manter no eixo por mais tempo. quando me envolvo, empolgo, sei que posso ser muito boa nisso. além do mais, aqui tenho muitas amigas. quem é que pode ter esse privilégio? mas o sentimento da barata tonta e triste não me abandona. eu tenho que voltar. volto e elas estão no computador vendo lista de presente de casamento. eu de óculos escuros, enormes (amo eles). nem falei nada. fui enviar uns emails de trabalho. queria mesmo era poder tirar os óculos e dizer prá elas de tudo o que eu sinto e nem sei o que. queria mesmo era não ser assim tão frágil e tão pouca. poder resolver meus problemas cá comigo mesma, e que, aliás, eles fossem apenas os problemas reais, de todo mundo. como o da grana, o do carro quebrado, o do pedido que não entregam. queria ser a mulher que eu imaginei que seria aos trinta e poucos anos... mas ando enfraquecendo... emburrecendo... me acovardando... preciso ser melhor porque tenho que segurar a barra do meu filho que é filho de pais separados que não conseguem se entender. e eu não posso deixar que ele fique noiado. eu mesma já aceitei que a gente carrega muito mais dos nossos pais do que imaginávamos... aí então me dá um medo horrível do que o antonio possa vir a ser... e do amor que eu sinto por ele, coisa imensa que eu não controlo. e no meio da reunião o celular tocou e eu não pude atender. era a di, amiga que perdeu o pai há poucos dias e de quem eu queria tanto ter estado mais perto. tento falar com ela há dias e não consigo. ainda tenho uns minutos prá próxima reunião, vou escrever um pouco então...

uma alegria qualquer...


será que alguém aí poderia me dar uma alegriazinha qualquer, não precisa ser nada de mais não, nada a mudar os rumos dos ventos, mas que venha sem eu saber, que chegue de repente e sem que eu precise chamar... hoje tô sem voz e sem esperança.

quero só voltar prá casa e me esconder de saber que não vai adiantar nada.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

a elas...

a quem eu corro sempre quando me sinto pequenininha, menos, menor, sumindo... ao lado de quem eu me sento e então o mundo volta ao lugar. ao lado de quem posso ficar sem falar, posso chorar, rir ou dizer coisas vergonhosas sem me envergonhar. a quem me sabe ver sem eu mostrar, a quem me abriga e não me obriga a nada, me ajuda a ver. a quem me dá a mão, a quem me dá sempre razão de querer relembrar histórias, construir presentes, sonhar futuros. sonhar... a elas que me deixam ser louca, que me deixam não saber. a todas elas que serão sempre meu chão e minhas asas. às amigas... todas grandes mulheres. com tudo o que vem dentro disso!!!!!
acho que ando querendo aprender as coisas que todo mundo sabe. aquelas quais as que eu sempre virei a cara, as que eu deprezava, negava, fugia.
quando me vi a reler e rever coisas escritas por mim nesses tempos, pensei "caralho, eu nem mudei tanto assim. cadê a segurança que era prá eu sentir? cadê a mulher que eu projetei ser? eu bem que poderia ter escrito essas babaquices há uma semana. os sentimentos de semente ainda estão todos aqui, a espera de brotar." às vezes olho prá mim e acho tão triste o que sou... como agora, a escrever essas adolescentices. e fico perguntando, perguntando, perguntando.... sem nenhum interesse em reponder.
"me vejo no que vejo, como entrar por meus olhos em um olho mais limpido, me olha o que eu olho, é minha criação isto que vejo, perceber é conceber águas de pensamentos, sou a criatura do que vejo."
octávio paz.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

um pouco da beleza do manoel para o lindo antonio.

"Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde,que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas."

(Manoel de Barros)


"GRANDE É A POESIA, A BONDADE E AS DANÇAS.
MAS A MELHOR COISA DO MUNDO SÃO AS CRIANÇAS!"

(Fernando Pessoa)