domingo, 25 de maio de 2008

tudo é tarde.

é engraçada essa sensação que se tem quando estamos a fim de escrever alguma coisa... a mim parece sempre que não vou escrever agora, meu estado de ânimo é sempre o de rascunho. mas enfim...
ontem eu estava em casa - é que agora não estou - , e com a sensação imponente de que o dia estava claro demais. sabe quando a tal claridade destoa de você a ponto de ampliar demais o que não se quer ver? então, meu filho dormiu, e estava muito sol, eu tinha uma porrada de coisa prá fazer, podia escolher entre tantas prioridades: um livro inteiro prá ler até segunda, escrever o folder de divulgação que deveria ter sido enviado há uma semana, começar a escrever o trabalho que tenho que enviar até dia primeiro para a inscrição no congresso, passar um pouco da montanha de roupa que está lá há meses, dar uma pesquisada nos meus livros sobre o conteúdo que deverá embasar teoricamente o livro que será lançado em outubro e que ainda não começou a ser escrito... ou poderia ainda escolher ser bem irresponsável e me lançar ao tapete prá assistir um dos filmes muito bem avaliados (por pessoas com quem me identifico, claro) que consegui gravar e não consegui ver ainda, quem sabe apenas dormir... de qualquer forma me parece que o mais esperado seria eu me sentir bem, com condições tão esperadas para resolver algum dos problemas que me incomodavam. mas nada... fui arrebatada por um sentimento desolador de imersão em qualquer coisa parecida comum lodo. uma solidão infinita em contraste insuportável com a claridade e as cores daquele dia. parecia domingo, claro. um domingo horroroso, como todos nós já vivemos algum. mas era sábado. e a sensação desse abandono era de tal forma avassaladora que eu só podia estar ali, parada em pé na cozinha, a cozinha cinza, escura. mas lá fora uma claridade de monstro a espreitar. penso ligar prá alguém, fingindo que nada aconteceu, perguntando e aí? tudo bem? que cê tá fazendo? ... meu celular ficou no carro de uma amiga que mora em outra cidade e esteve aqui ontem a noite. abro o portão e olho para os dois lados, não me lembrava se havia orelhões por perto. não vi nenhum. esperei alguém passar por ali (e demorou) (e nesses instantes eu estava com o sentimento de estar num filme, e a sensação era talvez parecida com a estética de um filme de faroeste) e perguntei se ele sabia onde tinha um orelhão por perto. e o mais perto era há uns três kilômetros dali. ampliou um pouco a solidão. entrei. de novo senti o contraste. dois mundos paralelos. o de dentro bem mais parecido com o meu. peguei um livro que estava sob a mesa e me sentei na escada entre o quintal descoberto e a garagem coberta, onde eu ficava no entremundos, com a certeza de que não conseguiria ler duas frases. e então fiquei amiga da simone, que me presenteou com um mundo terceiro, intensamente familiar. estou a salvo.

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