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nada das datas, nada dos presentes, dos passeios ou brinquedos. das casas apenas a cama dobrável e desconfortável na porta do banheiro espremida, a casa escura e minha mãe chorando baixinho no meio da noite.
de mim, sempre boa e calada, cabelos trançados, laços de fita. o isolamento na escola, o parque imenso e assustador.
o que tenho de mais vivo em mim é ainda aquela folha debaixo d'água.
o que mais tarde eu soube tratar-se de um quase afogamento, motivo de desespero entre os familiares, prá mim... é a lembrança boa da infância.
eu livre, como se voando, naquele mundo de encantamento, como se dançando no ar, e aquela folha linda, de cor indefinida, dançando cúmplice comigo.
não sei quantos segundos duraram esse sonho em vida, até que pulassem em pânico prá me roubar dele, mas são nítidos e mágicos ainda em minha memória.
além disso, quase nada... a cama dobrável, a casa escura, os choramingos de sempre, o medo das pessoas, os laços de fita. eu, calada, sempre.