gostava de poesia e de passarinhos. de meninas de saia rodada, de cirandas, de música todo o tempo, de minas gerais, de cabelos trançados, de flor desabrochada, de flor em botão. gostava de clarice, alice, anita, margarida e maria. de sentar ao sol em dia de frio e do cheiro da dama da noite. difícil era desabrochar seu sorriso. ele transbordava descuidado quando via os manacás. era sempre um susto, um suspiro, um aperto no peito, quando via os manacás. gostava de amora e de uva e de olhar abraços, olhos que sorriem, mãos dadas, carinhos. só espiava. e gostava daqueles casais de velhinhos que andavam de mãos dadas e usavam chapéus, suspensórios, xales, meias, perfumes. queria ser uma daquelas, toda floral e solene e sutil e amada. e cuidada. e segurada pela mão, até a praça, o mercado, o calçadão... mas não gostava de espelhos e se olhasse prá frente na vida via uma velhice doida, incontida, que não se reconhece nem se vê, que grita por não saber o que fazer com o que se é, que borra o batom e não usa xale, mas xinga. que não planta manacás, que é murcha e cheia de espinhos, enorme e de raíz tão profunda e tão forte que mal pode morrer. gostava de amarelo, de rosa e de vermelho. de chocolate branco e de deitar no colo. de céu do interior, de temperos, sementes, ervas, grãos. da tia lourdes, de gato amarelo e de gato cinza. fazia tanto tempo que não via a tia lourdes que nem sei, e das vezes que via, não falava com ela, quase. não tinha gato e sua cora tinha ido embora. tinha ido embora mas disso ela nem queria dizer.
4 comentários:
Delicadeza.
Lindeza.
Muito singelo, me emocionei!
Dificil nao se reconhecer em algum momento...
Que lindo. Doces lembranças de ser.
lindo!
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